Bráulio Vinícius Ferreira.
Arquiteto, professor e sobrevivente das bancas do TG.
O encerramento de um semestre letivo não é tarefa fácil, principalmente se ele vier recheado de bancas de trabalhos finais, nesse caso tanto faz, pode ser as de TG1 ou TG2. Outro dia fiz umas contas e me surpreendi com a quantidade de trabalhos que vamos avaliar. Preocupa-me o estresse que vivemos nas bancas de TG, especialmente a última banca. Neste semestre vivi mais uma situação atípica e quero relatar aqui as minhas impressões sobre o fato para não gerar, como no semestre anterior especulações de corredor.
Recebi um trabalho de TG2 realmente fraco. Representação ruim, pranchas ruins e o projeto ainda muito deficiente. Minhas observações para esta banca final eram todas neste sentido. Não quero ficar frisando os aspectos negativos do trabalho avaliado, mas quero tentar explicar a lição que aprendi.
Na banca da avaliação estava conosco um professor convidado experiente. Seu conhecimento no campo da arquitetura e urbanismo é incontestável, pois sua atuação não está limitada aos bancos acadêmicos, mas marcada por uma prática profissional constante e muito produtiva.
A primeira fala era do convidado, que ao abrir sua avaliação chamou a atenção para o aspecto positivo do trabalho: um texto primoroso, bem redigido e direto. Uma pesquisa para ser referência – argumentou o professor. Em seguida ele chamou a atenção para as algumas questões projetuais e passou a palavra para o restante da banca.
Pois bem a avaliação seguiu e a palavra foi passada. Relatei os pontos que julgava os mais “problemáticos”. Em seguida o outro professor fez sua avaliação. Quando a avaliação foi encerrada fiquei com a sensação de que a fala do professor convidado não indicaria uma reprovação, mas que o produto-projeto apresentado não estava no “nível” de um TG. O estudante aprovado com nota mínima passou e está apto a exercer a profissão de arquiteto e urbanista.
Encerrada a banca, falei – e como sempre falo demais – que o trabalho e seu respectivo autor foram “salvos” pelo professor convidado. Pois é como as paredes, e no caso da UEG aquele maldito vão escuro e cheio de divisórias, tem ouvidos o meu brilhante e estimulante depoimento havia então chegado aos ouvidos do estudante. Chateado com o que ouviu o autor do trabalho me procurou e disse-me que não havia gostado de ouvir que fora “salvo”. A conversa foi tensa e recheada de acusações – que agora livres da pressão da banca puderam ser francamente expostas pelo estudante. Naquela infeliz conversa afirmei novamente que o trabalho apresentado não estava bom, mas que seu texto realmente fora muito bem feito.
Lições que aprendi:
1. O elogio é sempre bem vindo, elogiar é um exercício e faz bem para quem recebe e para quem o faz. Fui extremamente marcado por elogios que recebi em minha formação.
2. Deveria me deter e discutir mais os pontos positivos do trabalho. Muitas vezes não conseguimos ver os pontos positivos do trabalho porque avaliamos procurando erros, e isso é ruim. É negativo demais.
3. A avaliação termina na sala da banca e não deve continuar nos corredores com comentários que podem ser interpretados fora do contexto.
4. Deveríamos rever as atribuições do TG e adequá-las às diretrizes curriculares. Se o estudante deve fazer um trabalho de acordo com as atribuições profissionais, deveríamos aceitar um trabalho puramente teórico? Temos a atribuição profissional garantida de pesquisa – qual é o produto que podemos avaliar? Complicado? Muito.
5. Quem salvou o estudante de uma reprovação foi o seu trabalho teórico e não o professor convidado.
6. Fui salvo de cometer mais uma injustiça, e de não perceber que outros aspectos positivos e produtivos do trabalho são importantes.
Gostaria de comentar duas coisas; difícil tarefa é um professor, mesmo estando certo por um lado, reconhecer que errou. É preciso coragem, caráter e uma auto-estima boa. Aquele que não tem uma auto-estima boa teme ter seu valor próprio condenado pelo seus erros e por isso não os assume.
Outro ponto em que concordo plenamente com você, é que parece que os erros marcam mais que os acertos. Acertar é uma “obrigação” enquanto que e o erro não é nem sequer esperado. Por isso quando ele acontece nós o “valorizamos”. Agora, quando falamos de elogios e críticas, ambos marcam a alma de uma pessoa de igual forma. Essas marcas podem tanto destruir como construir. Depende de como a pessoa vai lidar com ela.
Professor. Poe pra moer! Melhor agora que no mercadão… esse não perdoa! Poe na conta do Papa
Como diria um querido arquiteto professor: “…enfim, complicado isso…” E tenho dito!
Ótimo blog,
abç
Faço minhas as palavras da Dihana. “mas enfim, complicado isso…”
Bráulio, vou te confessar: o TG pra mim vai ser uma experiência do meu estado de espírito, explico: se na época (e olha que estou quase lá) eu estiver bem emocionalmente, vou fazer um trabalho capacitado, senão, vou errar feio e começar do zero! Pretendo me formar arquiteta-urbanista, o que vou fazer está nas mãos de Deus! Só me preocupo com o estado de espírito dos avaliadores, você sabe, quando estamos estressados não conseguimos raciocinar e tenho medo de acontecer o seguinte: meu trabalho bom com a banca estressada; meu trabalho incapacitado com uma banca positivista… Entende? Não sei ando confusa sobre que tema escolher, como começar, acho que no 7º e 8º período a gente devia ter essas noções sobre o TG: orientador, banca de avaliação, cronograma, sabe, uma preparação para não estressar nem professor nem aluno. Aline RRosa
Hoje, 31/12/11, 4 anos depois da 1ª leitura que fiz deste texto, sinto-me menos "sensível" para "palpitar" a respeito, haja vista terem se passado mais de 4 anos da minha catastrófica passagem pelo TG.
Transpondo a envergadura da conversa sobre o TG, em particular, gostaria de discorrer sobre os ERROS: assunto tangido no relato. Em todas as áreas da nossa vida procuramos sempre os erros. A todos os instantes me pego reiterando tal mal.
Ler o escrito me confrontou sobre o autoflagelo e as intensas cobranças externas, na busca incessante pelo erro, desvalorizando-se qualquer acerto, ainda que 1 só.
Ter algum "produto" seu reconhecido pela qualidade do desenvolvimento e, mais do que isso, receber elogios, é, no mínimo, estimulante.
O ato de elogiar transcende a "ética, a polidez e a possível piedade", e consiste em reconhecer humildemente que alguém fez algo bom. Tão bom que talvez não o faríamos de forma similar.
Plagiando um querido arquiteto e mestre que marcou minha passagem pela escola de arquitetura, quiçá justamente pelos elogios, afirmo: "enfim, complicado isso…"
Bráulio, parabéns pelo crescimento do blog, pelo crescimento pessoal, por ter se tornado, junto à sua família, grande amigo e companheiro de jornada de vida!
Grande abraço, e que o Senhor derrame bençãos sem fim sobre vc (o desejo é extensivo, rs), não só em 2012, mas por todos os dias de vida que lhe conceder.
Priscila Saba