Sei que estou entrando num campo polêmico, mas vamos lá. Todo mundo já estagiou, vai estagiar ou vai contratar um estagiário.
Estágio não é emprego. Estágio é um local de aprendizado dos conteúdos e práticas que na universidade seriam impossíveis de serem vistos e vivenciados pelos estudantes. O estágio deve ser caracterizado pelo aprendizado de práticas profissionais específicas do escritório de arquitetura: a relação entre clientes e arquitetos, os honorários profissionais, o desenvolvimento dos projetos, as reuniões com outros profissionais envolvidos no projeto e, também a visita às obras. Como componente curricular, o estágio, obrigatório ou não, deve ser encarado como um complemento da formação, para isto o estudante deve entender que o estágio não é mais importante que seus trabalhos acadêmicos, a freqüência às aulas e o cumprimento de suas obrigações como estudante.
Quem oferece o estágio deve saber que o estagiário não é uma mão de obra barata. O estudante de arquitetura está ali também para aprender. Designar ao estagiário tarefas exclusivas de desenho – os conhecidos cadistas – é reduzir a possibilidade de aprendizado e explorar uma mão de obra barata. Quem oferece uma vaga para um estagiário deve entender que tem compromisso com sua formação e que geralmente chega ao escritório sem saber de tudo sobre desenho, tecnologia e construção – ou seja, ainda é um arquiteto em formação.
Quem procura um estágio deve saber o que quer. Um estágio é uma oportunidade de aprender mais e de conhecer o universo profissional. Quem é estagiário deve saber que sua prioridade é a formação acadêmica. Não dá para competir com o curso de arquitetura que em muitas instituições de ensino é oferecido em tempo integral. Já vi estudantes de arquitetura mudando a vida para encaixar um estágio que no final daria um bom salário – e só. Assim o estágio acabará por atrapalhar a formação do estudante. Deformando-a.
Qual o momento ideal do estudante estagiar? Talvez minha resposta não agrade a maioria dos estudantes – mas acredito que o estágio deve ser cursado quando este estudante entender que o estágio será útil à sua formação. Nos cursos que sou professor, antes do quarto período o estágio seria uma experiência prematura. Acredito que após o quinto período o estágio já ofereça conteúdo para a formação profissional do estagiário, pois o estudante do quinto período já percorreu a metade do curso e tem conteúdo suficiente para o desenvolvimento do estágio.
Nos escritórios ou construtoras se houver a demanda for por desenho técnico especializado, os colegas arquitetos deveriam contratar técnicos de ensino médio, mas se a demanda for por desenvolvimento de projetos, detalhamento, visita à obra e gerenciamento de projetos o profissional a ser contratado é o arquiteto. Para as duas demandas o estagiário vai compor a equipe para aprender e auxiliar. Quem recebe um estagiário deveria entender que a formação profissional não está restrita aos bancos universitários e tanto nos escritórios de arquitetura como nas agências governamentais, o estágio ganha um papel importante na formação do futuro profissional.
Não custa lembrar, e parece estranho escrever, mas o estagiário é um ser humano que deve ser tratado com respeito e dignidade. Ouço relatos inacreditáveis do comportamento de alguns chefes de estagiários por aí. Ouço dizer que em alguns escritórios fazer um estagiário chorar, ou demiti-lo em um curto espaço de tempo é coisa normal e às vezes digna de publicidade. Lamentável.
Na verdade todo esse sistema já virou um ciclo vicioso.
Na verdade este sistema ja se tornou um ciclo vicioso… este estagio que no qual vocÊ descreve, pelomenos em Goiás é uma utopia.
Não sou arquiteto, mas consigo relacionar tudo o que você escreveu à minha área (análise de sistemas). É incrível o número de empresas que veem o estagiário como uma mão-de-obra barata, e, pelo o que vejo, isso é um problema generalizado. Estou buscando estágio, e não raramente costumo me deparar com vagas de estágio pedindo que o candidato tenha EXPERIÊNCIA ANTERIOR de pelo menos x anos!! Como se o absurdo já não fosse grande o suficiente, ainda querem que o estagiário trabalhe em tempo integral recebendo uma mixaria.
Estagio em que você visita obras é uma grande raridade , estagio na área da Arquitetura é só para aprendizagem do desenho técnico, em que algumas escolas o desenho técnico não é bem lecionado, na primeira oportunidade de estagio você fica deslumbrado " ahh consegui um estagio " mais ao passar dos meses nós estagiários ficamos cansado de exerce aquela mesma função de CADISTA, a impressão que passam e que o profissional Arquiteto e Urbanista não faz a minima questão de passar conhecimento com obras já que o grande diferencial de um profissional ao outro e o conhecimento no gerenciamento em obras . A escola em que estudo e bem falha em relação a matéria CONSTRUÇÃO oque é bem contraditório tendo como exemplo os grandes arquiteto construtores que no séculos passado era quem exercia esta função de construtor . Ao formar vou começar a me especializar nesta área, pois é uma área pouco exercida nos tempos de hj e o retorno financeiro deve ser ótimo .
Rodolpho, você tem razão sobre a construção civil ser uma área com bom retorno financeiro. Penso ser interessante investir não só na formação mas também atuação profissional neste segmento. Espero que ao ter um grande escritório adote outras políticas de estágio, que envolva os futuros profissionais em todas as áreas e processos da sua empresa. Sucesso e obrigado por comentar!
Infelizmente Rodrigo, as deformações no estágio são universais. Salvo raríssimas e utópicas oportunidades que de vez em quando aparecem.
Acho que não só em Goiás, caro João Marco, mas no Brasil e pelo que percebo em todas as áreas. O mercado queixa-se da formação acadêmica, mas na hora de contribuir com a formação dos futuros profissionais – o que ele faz na maioria dos casos – é uma deformação. Espero que no futuro em seu escritório você oportunize outras condições de trabalho aos jovens aprendizes. Abraço!
Nayara – Fui à uma entrevista de estágio esses dias, fiz o teste, usei os conhecimentos adquiridos na universidade, porém a exigência dos profissionais com relação ao estagiário é de um profissional formado, praticamente; o profissinal fez observações humilhantes e me tratou como uma estudante de ensino fundamental, fora a arrogância. Realmente, o interesse da maioria está na produção a curto prazo, não no fato de contribuir para a formação de um arquiteto.
Sou estudante de Administração, entrei no estágio para área de Recursos Humanos faz um mês, quando completei três semanas estagiando, a responsável do setor que estava me treinando e por sinal muitas vezes faltou interesse dela em mim, falou que o meu perfil não estava servindo para o setor, mas para atendimento ao público, no começo fiquei bem chateado, pois na minha visão estágio servia como aprendizagem e desenvolver habilidades, somente aceitei estagiar na recepção da empresa porque preciso de uma renda.