REVISTA PARATUDO

Paulo Mendes da Rocha e MMBB Arquitetos – Sesc 24 de Maio, São Paulo

por | dez 31, 2017 | Paratudo | 0 Comentários

O projeto de Paulo Mendes da Rocha e do MMBB Arquitetos para a nova unidade paulistana do Sesc, conhecida como 24 de Maio, é feito de adições e subtrações construtivas. Tratando-se de uma reforma com adição de área, o projeto opera sobre um edifício em desuso na região central de São Paulo de modo a redefinir completamente a espacialidade interna da construção, sua lógica de distribuição dos fluxos e também as fachadas. Sem contar a montagem que faz de um novo aparato técnico, necessário para acomodar com segurança, eficiência e conforto o programa no local. É, portanto, uma reforma ampla, onde importa menos a quantificação entre o que se manteve e o que se inseriu, entre antigo e novo em resumo, e mais a sintonia do projeto com a sensibilidade dos moradores da cidade a favor da revalorização do centro, para o desfrute público, acentuada quando o projeto (iniciado em 2002) já se encontrava em implantação (a obra durou de 2012 a 2017).

Por isso, um aspecto relevante da arquitetura são as vistas que abre para aquele pedaço conturbado da cidade, ou seja, o contato que estabelece com a rua, e a prioridade que deram os arquitetos à criação de amplas e numerosas áreas de circulação e de livre permanência, algumas das quais descobertas. No primeiro caso, importa observar as frestas realizadas nas novas fachadas envidraçadas, sejam as do terceiro andar ou as do terraço sob a piscina (ambas sem vedação), assim como os vazios que abrigam os pátios em alguns dos pavimentos superiores. Elas ocupam o espaço antes preenchido por um adendo da construção existente, que foi demolido por determinação dos arquitetos e parcialmente reocupado por elevadores, escada e pelos tais pátios esparsos. Que são pequenos se comparados ao tamanho das lajes e, portanto, das fachadas que eles recortam, mas capazes de situar o usuário no entorno.

No segundo caso, deve-se mencionar que menos da metade dos espaços são de acesso restrito, ou seja, condicionados à inscrição prévia em atividades e serviços oferecidos pelo Sesc. Nos demais, inclusive na biblioteca (quarto piso) e na exposição (quinto piso), pode-se entrar e permanecer livre em amplas salas, mobiliadas com mesas, assentos e armários volantes desenhados pelos arquitetos. Algo notável em um projeto que lida com as restrições físicas – sejam de ordem técnica ou de programa – impostas pela reforma de uma edificação existente, em que é preciso atender a elevada densidade de instalações requeridas pelo contratante.

Assim, embora a malha irregular e densa dos pilares mantidos, dispostos com lógica alheia ao novo uso, e das salas compartimentadas requeridas, o que se tem é o oposto de uma ocupação labiríntica. A luz natural é determinante disso (todas as fachadas foram demolidas e, em seu lugar, entraram fechamentos envidraçados – inclusive nas divisas internas), mas, sobretudo, a qualidade espacial do projeto é também favorecida pela troca que os autores fizeram entre cheios e vazios. Vedaram quase que integralmente a abertura quadrada (de 14 metros) no miolo do edifício – que servia à contemplação de uma cúpula, também removida.

Em compensação, onde existiam os fossos dos elevadores, implantaram a rampa que se desenvolve continuamente do térreo à cobertura do Sesc. Ou seja, otimizaram as áreas construídas das lajes por meio da adição de piso nas suas regiões centrais e, independentemente da maior ou menor restrição de acesso a cada um dos andares, criaram a livre transposição vertical do edifício através da rampa, pela qual se pode caminhar observando as diversas atividades e espaços.

Nesse sentido, foi também fundamental a incorporação ao projeto de um edifício anexo, que passou a abrigar dependências dos funcionários, sanitários e salas técnicas. A arquitetura preexistente era, e continua sendo, formalmente inexpressiva, e a excessiva reflexão dos vidros das novas fachadas mais atrapalha do que ajuda a fazer com que o Sesc coloque alguma ordem na paisagem. Mas, para além da qualidade dos espaços internos comentada acima e da inteligente disposição do programa, é impactante o fato da piscina ter sido acrescida no topo da construção, sustentada por quatro pilares circulares de concreto visíveis ao longo dos andares. É a mensagem dos arquitetos a favor do desfrute, do ócio na cidade, a que se dedica o projeto. (Por Evelise Grunow)

Mais detalhes sobre o projeto, Vale o Clique!

Via Arco Web

EDITO RIAL

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ISSN 1018-4783

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