Dentre as pérolas da propaganda política existe uma que me irrita profundamente: a história clássica de que “já fui engraxate”. Quero dizer que eu também já fui engraxate. Por poucas horas, mas já fui. Se considerarmos o planejamento como etapa do projeto ‘Bráulio Engraxate’ posso até colocar no meu currículo ‘lattes’ que fui profissional do ramo da graxa de sapato por alguns meses.

Tive um tio que gostava muito de marcenaria. Tio Afonso era ‘inventivo’ por natureza. Gostava de fazer pequenos brinquedos de madeira para seus sobrinhos. Ganhei caminhões e aviões. Mas um dia fiz um pedido diferente para ele. Pedi a ele que fizesse uma caixa de engraxate, para eu ganhar uns trocados e algum dia quem sabe escrever essa história. Pois bem demorou um pouco para a caixa ficar pronta, mas juntando algumas madeiras do quintal – olha o embrião da sustentabilidade na minha vida – meu tio fez uma bela caixa de madeira.

Entregue a encomenda, coloquei algumas graxas de sapato, escova e pano dentro da caixa e segui com a execução do meu plano. Quando fui levantar a caixa para colocar no meu ombro pensei que alguma coisa estava errada. A caixa não saiu do lugar tão facilmente e ao colocar no meu ombro senti o peso daquele material. Acho também que havia um pequeno erro de escala, pois o tamanho da caixa estava um pouco exagerado.

Mas como eu era persistente (na época eu era cabeça dura e teimoso) continuei com o plano. Peguei a caixa dei uma volta no quarteirão, fiz três pausas para respirar e voltei para casa com um esfolado no ombro e dores nas costas. Não engraxei nenhum sapato na rua, mas meu pai vendo minha frustração pediu para que eu fizesse o serviço em seus pares de calçado.

Então hoje eu posso dizer: Já fui engraxate.