REVISTA PARATUDO

EXPODERIVA 2012 – Ademir Luiz.

por | ago 31, 2012 | Paratudo | 1 Comentário

“O conceito de deriva urbana foi desenvolvido, numa perspectiva contemporânea, pelo filósofo situacionista Guy Debord, autor do livro clássico que se tornou filme, dirigido pelo próprio autor, “Sociedade do Espetáculo”. 


Em livre interpretação, segundo Debord, a deriva consiste num estudo psicogeográfico, onde o ambiente urbano seria vivenciado a partir das condições psíquicas dos membros de um grupo que se dispusesse a percorrer a cidade, deixando que oscaminhos trilhados se construam no instante do passo, sem definição prévia. 





Ao longo da deriva deve-se produzir um mapa no qual devem estar indicados as motivações que fizeram o caminhante seguir pela direita e não pela esquerda, parar diante de um monumento ao invés de uma vitrine, descansar numa praça e não encostado na parede etc. 

Refletir acerca das condições psíquicas que guiaram o ato de, conscientemente, deixar-se perder pela cidade. A principal motivação da deriva é amalgamar urbanismo, arquitetura, cidade e caminhantes, construindo um espaço onde todos são agentes da construção do ambiente urbano.



Por sua vez, o conceito da Deriva Fotográfica do Bem, idealizado pelo arquiteto, urbanista e fotógrafo Bráulio Vinícius Ferreira, soma aos princípios de Debord os elementos da apreciação estética e da solidariadade humana. 

O primeiro no resultado artístico do evento: as fotos produzidas durante a expedição urbana. O segundo pelas doações realizadas pelos participantes, que são revertidas em prol de entidades beneficentes. O mapa de reações psíquicas constitui-se das fotografias. Por meio delas, caso se queira, é possível reconstituir os caminhos trilhados. 

Também é possível considerar que a elaboração dos ângulos das imagens ajudem a desvelar algo do aspecto emocional do fotografo no milésimo de segundo que congelou. Pois uma máquina fotográfica, da mais simples até a mais sofisticada, é sempre uma máquina do tempo. Não ir para o passado ou para o futuro, mas de parar o tempo.


Goiânia é uma cidade fotogênica. Na edição 2012 da Deriva, “guiei” (se é que se pode guiar numa deriva!) um grupo em linhas sinuosos que nos levaram da Praça Cívica para a Catedral na 10º avenida, daí para o Lyceu de Goiânia que levou-nos até o Mercado Municipal e, finalmente, para o Parthenon Center. 

Um caminho que, pensando a posteriore, se traduz numa corrente que sai do Centro de Poder político, passa pelo símbolo máximo do Poder religioso, que cai na templo da educação, que por tradição sempre será um contextador desses dois poderes, desembocando em duas vertentes do comércio: o popular e o industrial. 

De um lado raízes e empadas semi-caseiras, do outro produtos industrializados e embalagens longa-vida. Não por acaso, os dois tipos de comércio sempre alimentaram os poderes constituídos. Cronologicamente, primeiro o poder simbólico, encarnado na religião oficial observada na Catedral, depois o poder da caneta, que se esconde atrás dos muros verdes do Palácio das Esmeraldas. Curiosamente, no meio, o Lyceu. O prédio da educação, que forma o senso crítico, que ajuda a pensar e colocar em perspectivas os “dois poderes”.


Nada disso foi planejado. Isso, sim, é deriva.”

Ademir Luiz, agosto de 2012 .

EDITO RIAL

A Revista Paralax é também fruto da construção criativa e responsiva do Paralelo Amarelo: plataforma que comunica arte, cultura, arquitetura, urbanismo, design e fotografia, com uma ênfase em nossa produção regional.

ISSN 1018-4783

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1 Comentário

  1. Anônimo

    Amei!

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