Bráulio Vinícius Ferreira.
Arquiteto, professor e curioso.
A criatividade constitui hoje um dos termos mais utilizados como capacidade valorizada em todos os campos do conhecimento. Originalidade, inovação na solução de problemas, riqueza de idéias, pensamento flexível, abertura e fluidez no processo de produção são características das pessoas criativas, cobiçadas pelas empresas num mundo globalizado, no qual a concorrência em âmbito mundial e o desenvolvimento tecnológico exigem constantes inovações.
Lotufo (1999, p. 796) faz, a esse respeito, a seguinte colocação: Os estudos mais abrangentes sobre criatividade surgiram exatamente neste contexto da concorrência tecnológica.
Vários autores como Mühle, 1980, Ziechmann, 1980, Kneller, 1978, citam o choque do Sputnik, 1957, como ponto de partida das pesquisas amplas na área da criatividade. O avanço tecnológico da União Soviética resultou na preocupação da sociedade americana em buscar renovações profundas no campo da Psicologia e Pedagogia, diante do medo de perder a liderança técnico-científica.
A criatividade é própria da natureza humana, é uma de suas necessidades. Há uma tendência em tratar a criatividade apenas do ponto de vista artístico, restringindo o ato criativo ao campo das artes.
Na opinião de Ostrower (1996), o ato de criar só pode ser visto, num sentido amplo e global, como um agir integrado ao viver humano. Segundo esta autora, a natureza criativa do homem se elabora num contexto cultural, no qual todo indivíduo se desenvolve, e num contexto social, no qual necessidades e valores culturais se moldam aos valores da vida.
Há, então, dentro do indivíduo, uma polarização da seguinte relação: a criatividade que representa o potencial de ser único e a criação, que será a realização deste potencial dentro de um contexto. Uma das idéias de Ostrower é considerar os processos criativos na interligação dos dois níveis da existência humana: o individual e o cultural.
Alguns autores afirmam que, ao adentrar nesta importante e complexa área, haverá desde o início um problema conceitual que é a definição de criatividade ou do que entender por criatividade.
Segundo Martínez (1997), existem mais de 400 sentidos diferentes para o termo, além de palavras com significados aproximados, como produtividade, pensamento criativo, pensamento produtivo, originalidade, inventividade, descoberta e inteligência.
Pode-se definir criatividade como o processo de produção de alguma coisa nova. Este conceito parece estar intimamente ligado ao produto, ou ao resultado, mas Martínez (1997) afirma que o processo através do qual se chega ao produto, ou resultado, está implícito e tem um papel fundamental.
Para Ostrower (1996), o ato de criar está intimamente relacionado ao de formar. É basicamente dar forma a algo novo, não importando qual seja o campo de atividade. Desta forma, não só os campos da Arquitetura ou das Artes podem se apropriar do termo.
Gomes (2001) afirma que criar significa o processo pelo qual seres humanos encontram meios para conceber, gerar, formar, desenvolver e materializar idéias. Segundo este autor o ato de criar é resultante de dois fatores bem distintos nos seres humanos: os cinco sentidos perceptivos e a quantidade de conexões que o cérebro produz.
Não há como chegar a um conceito absoluto de criatividade, mas pode-se afirmar, em síntese, que criatividade é o processo de descoberta ou de produção de algo novo, que cumpre as exigências de uma determinada situação social, processo que, além disso, tem um caráter pessoal.
Segundo Gomes (2001), o processo criativo permite, àquele que o conhece, obter consciência de suas potencialidades para a prática profissional.
O conceito de criatividade como processo é fundamental para a atividade do arquiteto e urbanista, pois o produto que se espera obter como resultado de seu trabalho passa pela etapa da concepção, da representação e da construção ou implantação, e cada uma destas etapas de trabalho estabelece um processo de desenvolvimento particular, deixando perceber que a criatividade no processo de trabalho é fundamental para a atividade do arquiteto e urbanista.
Kneller (1999) afirma que existem quatro categorias de definições para criatividade: Ela pode ser considerada do ponto de vista da pessoa que cria, isto é, em termos de fisiologia e temperamento, inclusive atitudes pessoais, hábitos e valores. Pode também ser explanada por meio dos processos mentais, motivação, percepção, aprendizado, pensamento e comunicação – que o ato de criar mobiliza.
Uma terceira definição focaliza influências ambientais e culturais. Finalmente, a criatividade pode ser entendida em função de seus produtos, como teorias, invenções, pinturas, esculturas e poemas. Esta última concepção é que tem predominantemente guiado, por tradição, o estudo da criatividade. Este é, na verdade, o modo mais óbvio de abordar o assunto, uma vez que os produtos, sendo públicos e prontamente obteníveis, são mais facilmente avaliados do que personalidades. (KNELLER, 1999, p.15)
As definições de criatividade apontam para um denominador comum: o elemento novidade. Cria-se quando se descobre uma nova maneira de resolver uma atividade, quando se dá a um objeto um novo sentido, quando se cria sentidos para as palavras ou quando são feitas novas combinações de notas musicais, criando, assim, uma nova melodia. A novidade está sempre presente no ato de criar.
Para Kneller (1999), a novidade por si só não torna criativo um ato ou uma idéia. Outro fator que deve estar presente é a relevância. Como o ato criador é uma resposta de uma situação particular, ele deve resolver ou dar noções de solução para a situação que o fez surgir. Portanto, segundo este autor, um ato ou uma idéia são criadores não apenas por serem novos mas também porque conseguem algo adequado a uma dada situação.
Referências Bibliográficas:
GOMES, Luiz Vidal Negreiros. Criatividade: projeto, desenho, produto. Santa Maria – RS: sCHDs Editora Ltda., 2001.
KNELLER, G. F. Arte e Ciência da Criatividade. 14. ed. São Paulo: Ibrasa, 1999.
LOTUFO, E. Criatividade no Ensino Universitário. In: Fragmentos de Cultura, Goiânia, v.9, n. 4, p.795-811, jul./ago. UCG, 1999.
MARTÍNEZ, A. M. Criatividade, Personalidade e Educação. Campinas: Papirus, 1997.
OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. 11ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
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