Bráulio Vinícius Ferreira.
Arquiteto e Professor.
Em relação à atividade criativa, alguns autores apontam para a existência de fases ou etapas reconhecíveis. Para Kneller (1999), por exemplo o processo criativo se desenvolve durante um período de tempo e este período pode ser analisado como sendo composto de vários estágios da atividade criativa. Este autor propõe uma fase inicial, a apreensão, que antecede a fase da preparação, a incubação, a iluminação e, por fim, a verificação.
Outros autores afirmam que a atividade criativa não pode ser dividida com esta precisão de fases, pois os vários processos que participam na criação são tão complexos e ligados uns nos outros que seria um equívoco separá-los numa seqüência.
A fase da apreensão é caracterizada por uma demorada preparação consciente, que é seguida por intervalos de atividade não consciente. O criador tem de ter o seu primeiro “insight”, ou seja, apreender uma idéia a ser realizada ou um problema a ser resolvido. Até o momento da apreensão, o autor não teve inspiração, mas apenas a noção de algo a fazer. A preparação é constituída pela investigação das potencialidades da idéia inicial. O criador lê, anota, discute, indaga, coleciona. Nesta fase, o criador pode propor possíveis soluções, ponderando a viabilidade de cada proposta.
A preparação inclui também o meio criador. A criação requer técnica, que pode ser bruta ou refinada, conforme a natureza do meio. A fase da incubação tem como característica o trabalho do inconsciente que, sem limites e desimpedido pelo intelecto literal, faz as inesperadas conexões que constituem a essência da criação. O momento da iluminação leva o processo de criação ao seu ponto máximo, pois, de repente, o criador percebe a solução para seu problema, o conceito que enfoca todos os fatos ou o pensamento que completa as idéias em que ele trabalha.
A última fase da atividade criativa é a verificação ou a revisão, na qual o criador precisa distinguir, na sua produção, o que é válido, pois a fase de iluminação é falível. Embora a apresentação das fases da atividade criativa seja tão evidente não há como separá-las.
Sobre o processo da atividade criativa, Kneller (1999) esclarece:
Primeiro há um impulso para criar. Segue-se a este um período, freqüentemente demorado, em que o criador recolhe material e investiga diferentes métodos de trabalhá-lo. Vem a seguir um tempo de incubação no qual a obra criadora procede inconscientemente. Então surge o momento da iluminação, e o inconsciente anuncia de súbito os resultados de seu trabalho. Há por fim, um processo de revisão em que as données de inspiração são conscientemente elaboradas, alteradas e corrigidas. (KNELLER, 1999, p.73)
Apesar de a atividade criativa apresentar um desenvolvimento de etapas distintas, a realização destas etapas acontece de forma dinâmica. O processo de realização de uma atividade criativa não acontece de forma linear; pelo contrário, é a relação das etapas que resulta em uma atividade criativa bem sucedida. Além das fases ou etapas da atividade criativa, existem algumas condições que devem existir para que, segundo Kneller (1999), ocorra a verdadeira criação. A receptividade é a primeira delas, pois se é certo que as idéias criadoras não podem ser forçadas, também é certo que elas não surgem se não se está receptivo.
Muitas idéias perdem-se simplesmente porque a pessoa se acha tão ocupada que nem consegue notá-las ou perceber sua significação. A imersão é a condição para se envolver com o assunto da atividade criativa. Tal condição nutre a imaginação e fortalece a atividade criativa, pois oferece uma série de novas abordagens em relação ao problema, evidencia novos caminhos para a solução de um problema e a ajuda o sujeito da atividade criativa a pensar mais profundamente e de modo mais global a respeito de sua atividade, revelando dificuldades e possibilidades que antes não seriam notadas.
As outras condições da atividade criativa são a dedicação e o desprendimento. A imersão naturalmente leva à dedicação, pois o criador precisa se envolver profundamente em seu trabalho para reunir a energia necessária à concentração que a atividade criativa exige. Ao mesmo tempo, quando o sujeito da atividade criativa focaliza em demasia seu trabalho, pode limitar seu pensamento e prejudicar a criatividade. Desta forma, é necessário desprendimento para que se consiga ver o processo como um todo, permitindo, assim, outras formas de leitura e observação da atividade criativa. A imaginação e o julgamento são também condições da atividade criativa. A imaginação produz idéias, porém não as comunica; já o julgamento comunica as idéias mas não as produz. A criação só ocorrerá se houver cooperação entre a imaginação e julgamento, uma vez que a atividade criativa é, ao mesmo tempo, produção e comunicação. A interrogação é outra condição da atividade criativa.
Para o pensamento criador, é tão importante fazer perguntas quanto respondê-las, pois ao se exprimir em forma de indagação, criadora torna mais fácil encontrá-lo o objeto da pesquisa. São também características da atividade criativa a amplitude e a fertilidade de suas abordagens; uma das marcas desta atividade criativa é não aceitar o erro como um ponto final, mas como motivo para mudar as formas de abordagens a respeito do objeto da criação. Muitas vezes o que parece erro pode ser uma intuição distorcida durante o processo da atividade criativa, podendo levar a uma outra direção, que pode ser a correta. O uso dos erros de forma inteligente é outra condição da atividade criativa.
O sujeito da atividade criativa precisa saber quando parar de dirigir sua obra e permitir que ela o dirija. Deve saber, portanto, quando é provável que sua obra seja mais sábia do que ele. É necessário, como condição da atividade criativa, a submissão do criador à obra de criação.
Referência Bibliográfica
KNELLER, G. F. Arte e Ciência da Criatividade. 14. ed. São Paulo: Ibrasa, 1999.
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