– Fotografia é arte?
Esse mesmo Alguém muitos dias depois, ao me ouvir elogiar umas fotos, disse:
– Mas é lógico que você gostou dessas fotos, é fotografia artística.
Então me perguntei o que seria uma foto artística? Quando é que a fotografia transcende sua função de mera captura de imagens e passa a um outro plano? Plano da memória, da inversão, da (des)construção e, porque não, da denuncia da realidade?
Eu diria que o que transforma uma foto em arte não é técnica, enquadramento, luz e muito menos Nikon/Canon. O que faz uma foto artística é só e somente o belo.
O belo de um cachorro chamado mixaria, da vida refletida na poça d’água de esgoto, das pichações reconstruindo a cidade pelos olhos de quem a habita, da verdade rasgando a alma. Citando Nietzsche, a beleza é “une promesse de bonheur”, ela é desavergonhada, é ela que nos permite em um breve intervalo relaxar e nos perder. E é nesse momento efêmero que a Arte se faz.
“Uma vez que cada instante porta em si a morte, o instante belo precisa ser perpetuado como tal, para tornar possível algo como a felicidade. (…)E uma vez configurado na obra, o instante belo pode ser sempre repetido; encontra-se eternizado na obra de arte” (MARCUSE, Cultura e Psicanálise).
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